sábado, 6 de setembro de 2014

Banda e músico do distrito de Setúbal distinguidos no Dia Nacional das Bandas Filarmónicas

A Banda da Sociedade Filarmónica Incrível Almadense e o músico azeitonense Pedro Marquês de Sousa foram agraciados com a medalha de mérito cultural, da Secretaria de Estado da Cultura, por ocasião das comemorações nacionais do Dia Nacional das Bandas Filarmónicas. 

O momento assinala o justo reconhecimento do trabalho desenvolvido por centenas de bandas filarmónicas por todo o país e vem na sequência de sugestão da família associativa representada na Confederação Portuguesa das Coletividades de Cultura, Recreio e Desporto.
 
Banda da Sociedade Filarmónica Incrível Almadense 
Pedro Marquês de Sousa, músico azeitonense (Sociedade Filarmónica Providência
A ato incluiu-se na inauguração do Núcleo Documental de Partituras do Museu da Música e teve lugar em Mafra no dia 31 de Agosto, numa iniciativa da Secretaria de Estado da Cultura e da Câmara Municipal de Mafra que contou com a colaboração da CPCCRD a que a nossa Federação se associou. Aquele Núcleo ficará instalado no Auditório Municipal Baeatriz Costa, em Mafra.
 
Durante as comemorações a Confederação, em representação do movmento associativo popular e das suas numerosas bandas filarmónicas, assinou um Protocolo com o Museu da Música no sentido da salvaguarda, preservação e disponibilização ao público de partituras de várias peças fundamentais do reportório das nossas Filarmónicas e de outras actividades associativas musicais.
 
As comemorações do Dia Nacional das Bandas Filarmónicas decorreram ao longo do dia naquela cidade da região saloia e incluiram diversos momentos evocativos da atividade das bandas, nomeadamente desfile e concerto por diversas bandas.
 
Cerimónia de imposição dos galardões.
Os homenageados do distrito de Setúbal

Sociedade Filarmónica Incrível Almadense

Nascida na urbe da vila de Almada, num rés-do-chão de uma pequena habitação situada no centro histórico, a Sociedade Filarmónica Incrível Almadense (SFIA) foi fundada em 1 de Outubro de 1848, e com ela a sua Banda Filarmónica que tem vindo a espalhar ao longo dos seus 166 anos essa divina arte que é a Música, exercendo igualmente a missão e função educativas e sociais, razões fortes pelas quais foi sempre considerada o ex-líbris da Colectividade.

Como outras Colectividades centenárias, a Incrível Almadense constituiu das poucas ofertas em termos culturais, recreativos e desportivos para as comunidades local e regional.

A Banda da Incrível, a mais antiga do concelho e a segunda mais antiga do Distrito de Setúbal, foi, na sua origem, maioritariamente composta por operários tanoeiros e corticeiros o que traduzia as fortes raízes populares da Incrível. Desempenhou e desempenha relevante e essencial papel de intervenção social e política, promovendo a reunião, o convívio, a partilha e discussão de ideias, valores e a construção de sonhos e ideais.

No decorrer da sua longa história, viu inúmeras vezes reconhecido o seu trabalho em prol da cultura, do recreio e do desporto, visando a formação humana integral, tendo recebido o Grau de Oficial da Ordem de Benemerência (1940) e a Medalha de Ouro de Instrução e Arte, pela Federação Portuguesa das Colectividades de Cultura e Recreio (1954), da qual é Filiada desde 1943.

Foi reconhecida em 1980 como Instituição de Utilidade Pública (Diário da República de 22 de Setembro). Recebeu a Medalha de Ouro da Cidade de Almada (1989). É Membro Honorário da Ordem do Infante D. Henrique (1993), e Membro Honorário da Ordem da Liberdade (1998).

Com a Banda em actividade ininterrupta desde 1848, nela se formaram muitas centenas, talvez, mesmo, milhares, de Músicos executantes de ambos os sexos, contando no seu historial com a regência de 25 maestros. Inicialmente dirigida pelo maestro Pavia (durante 24 anos), são de destacar nomes de ilustres maestros como os de Amadeu Stoffel, José António Gonçalves, Manuel da Silva Dionísio ou António Gonçalves, que, com a sua mestria, dedicação e amor à música, cultivaram a bela Arte dos Sons.

Sobrevivendo ao longo de três séculos, vários regimes políticos e várias crises sociais e políticas do país, funcionou de forma ininterrupta. Actualmente é composta por cerca de 45 músicos executantes (3 gerações) e tem a funcionar uma Escola de Música com cerca de 40 crianças e jovens. É dirigida pelo jovem Maestro David Correia, músico desde os 7 anos.

A Banda da Incrível Almadense tem, ao longo de sua história, cooperado com outras actividades da Colectividade como o Teatro, Ballet e Coro. Tem presença assídua em festas religiosas e populares como as “burricadas”, bem como em Festivais de Bandas por todo o país e estrangeiro.

A sua vida associativa e musical mereceu ser plasmada em obras de investigadores e historiadores quer em formato papel, quer em digital ou fonográfico.

A SFIA é pois uma instituição de elevado valor histórico, social, cultural e económico no contexto da sua Cidade, da Região de Setúbal e da Área Metropolitana de Lisboa.


Pedro Alexandre Marcelino Marquês de Sousa

Músico filarmónico natural de Azeitão, iniciou a sua vida musical aos 12 anos de idade, aprendendo solfejo e saxofone com o seu pai, também músico oriundo do meio filarmónico, que fez carreira como músico profissional na Banda da Marinha e como maestro de diversas filarmónicas. No seio da família do lado paterno, recebeu também a herança do seu avô, também músico filarmónico com o perfil típico dos músicos das bandas das pequenas localidades rurais na 1ª metade do século XX: sendo analfabeto sabia contudo ler música e era até considerado na comunidade um excelente músico filarmónico, executante de Bombardino, instrumento considerado difícil e muito relevante nas bandas. Do lado materno tem como referência um tio avô, que já não conheceu, que além de músico filarmónico no século XIX, foi fundador e grande dinamizador da Sociedade Filarmónica Providência em Vila Fresca de Azeitão, a sua terra natal.
 
Em 1983 com 15 anos de idade ingressou no conservatório nacional em Lisboa, tendo sido aluno do professor Vitor Santos na classe de Saxofone, o primeiro professor que o conservatório nacional teve especializado neste instrumento, responsável pela classe de saxofone criada em 1975. Até 1975 era o professor de clarinete que era responsável também pelo ensino do saxofone no conservatório nacional, a única escola de música oficial que existia em Portugal com o curso de saxofone.
 
Além da atividade musical na sua terra em diversos agrupamentos musicais (orquestras ligeiras de variedades e nos designadas charangas ou cavalinhos) Pedro Sousa foi musico filarmónico em diversas bandas onde o seu pai era maestro, como foram os casos da banda da Sociedade de Instrução Musical da Quinta do Anjo (Palmela) e da Sociedade Filarmónica Vestiariense (Vestiaria-Alcobaça) tendo colaborado durante mais tempo na banda e orquestra ligeira da Sociedade da Quinta do Anjo, no concelho de Palmela.
 
Durante a frequência do seu curso na Academia Militar e nos primeiros anos de carreira como oficial do exército, reduziu muito a sua participação em bandas filarmónicas embora nunca tenha deixado de tocar saxofone em agrupamentos de música ligeira de carácter amador, a condição de músico que sempre teve e que retomou de forma intensa após o ano 2003, quando assumiu a Presidência da Soc. Filarmónica da sua terra natal, reorganizando a sua banda filarmónica que estava inativa.
 
Nos últimos 11 anos, além da sua atividade musical em bandas filarmónicas e orquestras ligeiras de sociedades filarmónicas, desenvolveu investigação relevante no domínio da história, da organologia e do repertório das bandas de música em Portugal, com a sua Tese de Mestrado (2007) e de Doutoramento (2014) dedicadas a esta temática, sobre a qual é autor de 4 obras editadas entre 2008 e 2013.

Texto CA/FCDS; biografias de autoria dos próprios.